05/04/2012

Ambiente – riscos e incertezas

A NASA já produz vídeos a explicar como as actividades humanas contribuem para a catástrofe ambiental.


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    A ocorrência de secas deve enquadrar-se em anomalias da circulação geral da atmosfera, a que correspondem flutuações do clima numa escala local ou regional. A situação geográfica do território de Portugal Continental é favorável à ocorrência de episódios de seca, quase sempre associados a situações meteorológicas de bloqueio em que anticiclone subtropical do Atlântico Norte se mantém numa posição que impede que as perturbações da frente polar atinjam a Península Ibérica.
    http://www.meteo.pt/pt/oclima/observatoriosecas/

    Nos últimos 10 anos a situação de seca mais grave que ocorreu foi no período de novembro 2004 a fevereiro de 2006. Na tabela 3 apresentam-se as percentagens de território afetado pela situação de seca meteorológica entre dezembro e 31 de março para 2011/12 e 2004/05, verificando-se em 2012 uma situação mais gravosa do que em 2005, em termos de seca meteorológica.
    http://www.meteo.pt/bin/docs/tecnicos/Seca31MAR.pdf


As alterações climáticas afectam desigualmente os diferentes países do Mundo. Assim, as variações dos diversos indicadores (incluindo as vítimas) atingem maior magnitude nos países menos desenvolvidos.
http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2011_EN_Presentation.pptx

Durante muitos anos, foi possível encontrar na comunidade científica defensores da tese dos ciclos de subida e descida das temperaturas na Terra. Hoje dispomos de séries tão longas, que tornam incontestável a tendência, observando-se o consenso quanto à acção do Homem sobre a natureza, entre os académicos, mas sem consequências ao nível das decisões do domínio político, económico e social.

http://www.ipcc.ch/graphics/2001syr/large/05.16.jpg

Já ninguém duvida dos danos irreversíveis do Planeta, vinculadas aos modos de vida das sociedades industrializadas, observando o aumento da temperatura na Terra.
http://en.wikipedia.org/wiki/Portal:Global_warming

Para problematizar este tema é útil considerar os eixos segurança versus perigo e confiança versus risco.

Numa situação de segurança uma pessoa reage ao desapontamento culpando os outros; numa situação de confiança deve arcar parcialmente com a culpa e pode arrepender-se de ter depositado confiança em alguém ou alguma coisa. A distinção entre confiança e segurança depende de a possibilidade de frustração ser ou não influenciada pelo próprio comportamento anterior de cada um, e portanto, da correlativa discriminação entre risco e perigo. (Giddens, 1992, p. 31).

Os problemas ambientais, a possibilidade de uma guerra nuclear, o terrorismo, as crises financeiras, as falhas nos sistemas periciais (*) caracterizam aquilo a que Ulrich Beck designou por sociedade de risco. A sociedade de risco significa que vivemos na idade dos efeitos secundários, isto é, habitamos um mundo fora de controlo, onde nada é certo além da incerteza. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia permitiu o progresso económico das sociedades ocidentais; porém, o fruto desse desenvolvimento contribuiu para a emergência de novos riscos.

Segundo Luhmann (1993) a noção de risco depende mais do modo como é observado e não tanto das suas pressupostas características objectivas. O risco tornou-se numa variante que distingue entre aquilo que é desejado e indesejado. Para o autor o risco e o perigo estão ambos associados à ideia de potencial perda futura, no entanto a sua posição defende a distinção de ambos os conceitos. Segundo Luhmann (1993) podemos falar em perigo se as consequências ou prejuízos de um determinado acontecimento ocorrerem de forma independente da nossa vontade, ou seja, se a origem do evento provier de fontes externas. Pelo contrário, podemos falar em risco quando determinados acontecimentos tiverem origem em decisões próprias. O autor recorre aos seguintes exemplos: Quem fuma aceita o risco de morrer de cancro, embora para quem inala o fumo dos outros o cancro deve ser visto como um perigo. Alguém que assume o risco de morrer num acidente de viação, por decidir conduzir a alta velocidade, transforma esta situação num perigo para os outros automobilistas ou para os peões. Assim, a mesma acção pode ser um risco para uns e um perigo para outros.
http://www.aps.pt/vicongresso/pdfs/323.pdf

Salienta-se que entre os portugueses não existe o hábito de procurar informação sobre os riscos. Observa-se contudo que os mais literatos, os profissionais liberais, aqueles que têm rendimentos do seu trabalho mais elevados - o último escalão incluirá rendimentos do capital não negligenciáveis - são os que procuram mais frequentemente documentar-se.

Fonte: Os Portugueses e os Novos Riscos

Não procurar activamente informação é grave, porque a inacção é muitas vezes mais arriscada e há alguns riscos que nós temos que enfrentar, quer queiramos, quer não. Perigo e risco estão estreitamente relacionados, mas não são a mesma coisa. A diferença não depende de um indivíduo pesar ou não conscientemente as alternativas, ao considerar ou adoptar uma determinada linha de acção. O que o risco pressupõe é precisamente o perigo (não necessariamente a consciência do perigo). Uma pessoa que arrisca alguma coisa desafia o perigo, sendo este entendido como uma ameaça para os resultados desejados. Qualquer pessoa que assuma um “risco calculado” está consciente da(s) ameaça(s). (Giddens, 1992, p. 24).

Que nos importa isto?

Como poderemos considerar os riscos de uma catástrofe ecológica se os seus factores explicativos estão tão afastados do nosso controlo individual?

A MAIOR PARTE DE NÓS NÃO PODE.

Quem se preocupa com a possibilidade de uma catástrofe ecológica tende a ser considerado psiquicamente perturbado.

Embora não seja irracional que alguém estivesse permanentemente e conscientemente angustiado, esta forma de ver paralisaria a vida quotidiana normal. Numa reunião social este assunto é inconveniente.

Giddens descreve a catástrofe ambiental recorrendo à metáfora do Carro de Jagrená. (“Juggernaut” no original, refere-se a um mito religioso hindu, com origem na palavra “Jaggannath”, “senhor do Mundo”, que é um dos nomes de Krishna. Uma imagem desta divindade era levada todos os anos pelas ruas num enorme carro, sob o qual se lançavam, sendo esmagados pelas suas rodas).

O leigo - e todos nós somos leigos no que respeita à maioria dos sistemas periciais - tem de se deixar ir no Carro de Jagrená, que vai descendo o desfiladeiro sem qualquer controlo. A falta de controlo que muitos de nós sentimos no que toca a algumas circunstâncias das nossas vidas é real. Tudo pode desaparecer agora, a civilização, a história, a natureza. Que podemos fazer?

Giddens descreve quatro reacções adaptativas:

I) Aceitação pragmática – Muitos convivem bem com a catástrofe ecológica porque nem pensam nela, pois se pensassem seria aterrador

II) Optimismo persistente – Outros acreditam que podem ser encontradas soluções tecnológicas e sociais para os problemas

III) Pessimismo cínico – Podem-se encontrar pessoas oportunistas - o melhor é gozar o dia de hoje -, que vêem ali boa oportunidade de tirar proveito para si próprios

IV) Activismo radical – Atitude de contestação prática às fontes de perigo identificadas

Weber não explica a paralisação da acção social neste contexto, observando que os elos da racionalidade são cada vez mais apertados!!!

1. Refere as consequências ambientais da manutenção dos padrões de consumo.

2. Justifica de entre as reacções adaptativas referidas, qual a que te parece congruente com a luta preservação da Humanidade na Terra.

3. Problematiza a sociedade do risco e incerteza, tendo em consideração a diferente apetência dos grupos sociais pela informação.

4. Calcula a tua pegada ecológica e indica cinco aspectos que deverás mudar.

Recursos


(*) Sistemas periciais são sistemas de realização técnica, ou de pericialidade profissional, que organizam vastas áreas do ambiente material e social em que vivemos (Giddens, 1998, p. 19). Muitos leigos consultam "profissionais" - advogados, arquitectos, médicos, mecânicos, etc. - de forma periódica ou irregular. Isto é uma característica da modernidade.
Os riscos e as incertezas da sociedade actual/catástrofe ambiental decorrem da incapacidade dos "profissionais" para indicarem uma solução técnica.

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