26/01/2012

Cultura

“Quando em conversas quotidianas, usamos a palavra “cultura”, pensamos frequentemente nela como se representasse as “coisas mais elevadas do espírito” – a arte, a literatura, a música e a pintura” (Giddens). O conceito sociológico de cultura engloba muito mais actividades identificando os modos de vida dos membros de uma sociedade ou de grupos pertencentes à mesma: como se alimentam, como se vestem, como namoram, casam e se reproduzem, os seus padrões de trabalho, as cerimónias religiosas em que participam, as actividades de lazer que “escolhem”.
  • “(...) acho que é natural elas brincarem só com coisas de raparigas, que assim, quando forem grandes, tornam-se mais senhoras, para não serem assim daquelas… tipo Maria-rapaz.” (sexo masculino, PBE)
    “Mas às vezes, há aquelas mulheres que o homem está a trabalhar, vem estafado… para pagar as contas todas da casa (...) e as mulheres nem arrumam nem nada” (sexo feminino, PBE)
    http://www.aps.pt/vicongresso/pdfs/196.pdf
Utilizamos estes dois extractos para sublinhar que os elementos culturais se distinguem dos inatos, porque são aprendidos ao longo da socialização. Um piscar espontâneo dos olhos, ou retirar bruscamente os dedos de uma porta, na eminência de ficar entalado, são actos reflexos, aptidões inatas destinadas a assegurar a nossa sobrevivência. Mas a distribuição das tarefas domésticas foi aprendida, tendo um carácter contextual e não universalista (local) nem normativo ou hierárquico. Na nossa perspectiva, parece-nos que em todas as culturas as tarefas domésticas foram predominantemente atribuídas às mulheres, mas antes de o afirmar categoricamente seria necessário fazer uma investigação a nível planetário, para não sermos levados pelo etnocentrismo, tendência que leva cada indivíduo a sobrevalorizar a sua cultura.

Se considerarmos a diversidade cultural observaremos facilmente que muitas das nossas “escolhas” se encontram culturalmente determinadas, isto é, fazemos/gostamos daquilo de aprendemos a fazer/gostar. Por exemplo, no Ocidente a matança de recém-nascidos e bebés é considerada um crime horrendo, enquanto na cultura tradicional chinesa as crianças de sexo feminino eram frequentemente estranguladas à nascença. Comemos ostras, mas não gatinhos e cachorros como os chineses. Os Judeus não comem carne de porco, enquanto os Hindus embora comam porco, evitam carne de vaca. Consideramos o beijar como parte natural do comportamento sexual, mas o acto é desconhecido ou considerado de mau-gosto em muitas outras culturas (Giddens).

A cultura entendida como uma unidade e visão do mundo, apresenta determinados traços culturais: estes são os elementos que permitem descrever uma cultura, identificando os elementos culturais significativos: padrões de comportamento e padrões materiais.

Todas as culturas têm os seus próprios padrões de comportamento, que parecem estranhos às pessoas de outros contextos culturais. Não é excepção a esta regra a cultura ocidental. Leia-se um chefe polinésio que descreve o “homem branco”, em Papalagui:
  • O Papalagui está sempre preocupado em cobrir bem a sua carne. (...) O Papalagui mora como o marisco numa casca dura, e vive no meio de pedras, tal como a escalopendra (espécie de centopeia), entre fendas de lava, com pedras em volta, dos lados e por cima. A cabana em que mora parece-se com um baú de pedra em pé, com muitos compartimentos e furos. (…) Quase todas as cabanas são habitadas por mais gente do que as que moram numa só aldeia samoana; por isto, tem que saber exactamente o nome da aiga (família) que se quer visitar. O Papalagui
Distinguem-se dois tipos de elementos culturais:
Os valores, as normas, os padrões de comportamento, as atitudes, a linguagem, os ideais, as formas de comunicação, as festas e rituais, a poesia, a música, o folclore, as crenças, a religião, a literatura, pintura, etc. constituem os elementos espirituais (ou não materiais) da cultura.
Objectos como jóias, automóveis, computadores, apartamentos, ferramentas de trabalho, bens alimentares, vestuário, etc. são elementos materiais da cultura.
Estes elementos combinam-se, por exemplo, na Análise e Avaliação de Recursos Educativos online.

O vídeo abaixo explicita o conceito de relativismo cultural (03:38).


Hoje é muito fácil encontrarmos na escola ou na rua um grande número de grupos de diferentes origens culturais, étnicas ou linguísticas porque o multiculturalismo (ou diversidade cultural) é um facto. Apesar das referências frequentes ao Brasil, Portugal é exemplar a este nível, visto que “Não se conhecem outros casos de um tão grande número de pessoas se ter misturado tão rapidamente e sem conflito” (25:50).



Designamos por xenofobia um estado de receio, aversão ou hostilidade desenvolvido relativamente ao estrangeiro. O racismo provém do preconceito a partir das diferenças de fenótipo que se manifesta em juízos de inferioridade ou de superioridade de uns em relação a outros.

Para Durkheim nenhuma sociedade pode constituir-se sem criar um ideal, porque “a moralidade constitui um domínio de compreensões e juízos distintos de outras normas e valores sociais. A moralidade humana nuclear é uma preocupação com a justiça e o bem-estar humanos, e essa preocupação precede e deve fundamentar a moral prescritiva”.

“Individual e socialmente, nada é mais mobilizador do que os valores. São eles que nos motivam e, seja qual for a designação que lhes atribuímos, conferem sentido ao que fazemos, porque acreditamos neles. Deste modo, é através dos valores, que nos movem, que somos capazes de nos empenhar por uma causa, procurando atingir objectivos mais elevados como, por exemplo, a Justiça, a Verdade, o Bem, o Amor, ou mesmo o Interesse bem orientado” (Thomas, L-V, 1993).

Como concepções gerais do bem compartilhadas na cultura, os valores comuns dão origem a sentimentos de solidariedade e unidade, e determinam as acções e atitudes dos indivíduos.

  • Por exemplo, no campo da sexualidade, os pais consideram as relações pré-matrimoniais perigosas e repreensíveis no caso das raparigas, mas sem gravidade e por vezes útil no caso dos rapazes. Do ponto de vista dos jovens as relações pré-matrimoniais são sempre sem gravidade e por vezes úteis, independentemente do género.

    Pais e filhos dão uma grande atenção à auto-imagem pela importância que atribuem aos valores instrumentais “Honesto”, “Responsável”, “Capaz” e ao valor final “Dignidade”. Todavia, “Dignidade” e “Felicidade” estando tão próximos de “Harmonia Interior” para os filhos e de “Segurança Familiar” para os progenitores, já revelaram preferências por valores finais, dando indicações de caminhos diferentes para os alcançar.

    Nos valores finais, os jovens manifestam, na globalidade das respostas, dar uma maior importância aos valores íntimos estritamente pessoais (“Harmonia Interior”, “Liberdade”, “Sentido de Realização”, “Vida Apaixonada”) seguidos de valores relacionais, em detrimento de valores mais sociais que são privilegiados pelos progenitores (“Segurança Familiar”, “Mundo de Paz” e “Igualdade”)
    FIGUEIREDO, Eurico, (1988), Conflito de Gerações, Conflito de Valores
O casamento assenta na ideia do amor romântico. O individualismo afectivo tornou-se a influência predominante. Espera-se que os casais nutram um carinho mútuo, baseado na atracção pessoal e na compatibilidade, e que tal seja a razão por que as pessoas se casam. O amor romântico como parte do casamento tornou-se algo de “natural” no Ocidente; parece ser uma parte normal da existência humana, e não um aspecto específico da cultura moderna. Naturalmente, a realidade é diferente da ideologia. A ênfase dada à satisfação pessoal no casamento criou expectativas que, por vezes, não podem ser concretizadas, e este é um dos factores envolvidos no aumento das taxas de divórcio (Giddens).

Amar e “ter uma família”, trabalhar e “ter um emprego” constituem as preocupações principais, para não dizer exclusivas, dos nossos contemporâneos. Estes dois traços serão suficientes para caracterizar a cultura ocidental? (Dubar)
As ferramentas nobres em Portugal são um telemóvel para controlar o par e um automóvel para adquirir a liberdade.

Nos telemóveis só somos batidos por finlandeses e austríacos.

O número de automóveis (por 1.000 habitantes) é igualmente dos maiores da União Europeia, onde apenas somos batidos por Itália!

Tu és produto desta cultura, mas tens todas as peças para participar como produtor de uma sociedade mais justa, onde seja mais interessante viver.
Promete muito uma juventude que considera decisivo para o seu futuro adquirir educação/formação com experiências internacionais.

Fonte: Sondagem GFK/Deloitte


Recursos



Links para explorar a diversidade cultural

Narrativa de cinco raparigas estrangeiras a viver em Portugal
Dicas para comunicar com consciência cultural (em inglês)
EUA vs Europa
Ocidente vs Oriente
Itália vs Europa
How Do Kissing, Snoring And Other Things Sound In Different Languages?
Crianças falam o que pensam sobre Religião

Tarefas

1. Post genérico sobre o conceito sociológico de cultura com pelo menos 1000 palavras, explorando os recursos/links apresentados neste post. Deverão ser referidas todas as expressões destacadas a negrito. Indique no final as referências utilizadas, dando preferência aos trabalhos de sociólogos. (Como avaliar a informação? – Critérios da B-ON)

2. Post específico que reflicta a importância de conhecer a cultura da sociedade portuguesa para a compreensão do seu tema anual. Este post deverá ter no mínimo 500 palavras valorizando-se igualmente as referências.

3. Utilizando o POP, analisa os Valores em Portugal comparativamente com outros países europeus (sugestão: Portugal, Espanha, Grécia, Alemanha e Reino Unido), comentando no mínimo três indicadores em quatro temas.

Referências

http://books.google.pt/books?id=B2Jjs0WUBFYC&lpg=PP1&hl=pt-PT&pg=PA23#v=onepage&q&f=false
http://youtu.be/r8Eb5ZbbluA
http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1228400133Z5jYV2yd3Yf59ND2.pdf
https://sites.google.com/site/moralevalores/resenha-durkheim
http://www.aps.pt/cms/docs_prv/docs/DPR4628ca54ad664_1.pdf
DUBAR, Claude, (2006), A Crise das Identidades – A Interpretação de uma Mutação
FIGUEIREDO, Eurico, (1988), Conflito de Gerações, Conflito de Valores
GIDDENS, Anthony, (2000), Sociologia

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